Como todo bom gaúcho, além do churrasco e chimarrão, a música regionalista sempre foi um dos grandes trunfos deste que vos escreve. Seja por influência paterna ou ou só pelo simples fato de cantarolar
"Deu pra ti/baixo astral/vou pra Porto Alegre, tchau" (daquela dupla que todo mundo dizia ser meus pais, Kleiton & Kledir) e matar a saudade da capital riograndense.
Fato é que, pela primeira vez na história deste país (eu sei que você já ouviu isso um milhão de vezes, enfim!), a produção do rock gaúcho apresentou suas influências locais, regionais e internacionais reunidas em um só bendito long play, sabiamente chamado de Coisa de Louco II.
O álbum teve uma repercussão muito positiva e saiu de catálogo tão logo entrou, tornou-se raridade muito por conta da estrutura do selo Banguela, que naquele ano, 1995, mais se preocupava em lançar bandas interessantes do que trabalhar os lançamentos, muitos ficaram apenas na tiragem inicial. Isto para a Graforréia Xilarmônica foi bastante prejudicial, afinal a banda já era um nome conhecido no Rio Grande do Sul e mesmo no underground brasileiro. O projeto gráfico de “Coisa de Louco II” é bastante trabalhado e traz fotos da banda, todas as letras e ficha técnica.
É hora de descobrir os encantos que essa mistura da chinelagem adquirida com supra-sumo concentrado e aperfeiçoado disseminada psicodelicamente em papeletes de jovem guarda underground cuidadosamente mesclada com música regionalista gaúcha e pitadas de rock'n roll gringo dos anos sessenta.
Com 18 faixas, a banda que hoje faz cover de si mesma trouxe uma experiência única na vida deste jovem mequetrefe: um disco que não cansa de tocar na minha vitrola. Só fico preocupado com o fato de, se
ele realmente gastar, como vou encontrar outro, já que está esgotado nas lojas? Acho que preciso me agilizar e providenciar uma cópia de segurança e uma outra em arquivos .flac/mp3 e o caramba por garantia.
Formada por Frank Jorge, Marcelo Birck e Alexandre "Ograndi" Birck em 1987, A Graforréia Xilarmônica tornou-se cult em Porto Alegre em função de uma fita demo lançada em 1988 chamada “Com Amor, Muito Carinho”. As guitarras cacarejadas de Carlo Pianta dão o charme necessário para se fazer a musica atonal também proposta pelo grupo.
Eis que chega, "Literatura Brasileira". Já de cara, Mutley faça alguma coisa e Slave to Love de Bryan Ferry se misturam numa crítica ferrenha aos bananas que escrevem livros de auto-ajuda e afins e tem cadeira cativa na Acadêmia de Letras Brasileira (Pasmem! Até o Sarney está lá! Isso explica muita coisa!). Ok. Depois de raios duplos e triplos, logo começam as linhas de baixo de "Bagaceiro Chinelão", a narrativa
de um pedinte e a burguesia portoalegrense judaico-mão-de-vaca. O hit "Você foi Embora", que acabou virando videoclip e tocou bastante na MTV Brasil, coisa meio que miraculosa para uma banda como a Graforréia.
As desventuras da vida a dois e as aflições amorosas como as do Sofrimentos do Jovem Werther de Goethe, estão presentes em todas as partes do disco, sejam elas "Tive Teu nome", "Grito de Tarzan", "Empregada"( você ainda vai repetir: "“Raú Ped'i Lara” pelos alto-falantes da cidade!) , "Minha Picardia", "Patê", "Denis", "Nunca diga" e "Se arrependimento matasse" e "Se você não quis".
Até os Bitous foram lembrados em uma das mais engraçadas sagas adolescentes já presenciadas: Twist é a prova-viva da depressão juvenil bem humorada. Falando em Fab-Four, mais especificamente em George Harrison, a enigmática "Hare" traz o clima intimista ao disco.
Benga velha Companheira é o começo de uma trilogia proposta pela gurizada que conta a fatídica história de um bon-vivant em suas andanças pelo mundo.
Parem as máquinas. É hora do segundo hino oficial da república riograndense. Ah! parem com essa onda de bairrismo e sejam agraciados com o mezzo milonga mezzo tradicionalismo escancaradamente cômico
traduzido em versos como " O meu destino é Woodstock mas eu chego". Simplesmente sensacional. E viciante! Amigo Punk.
Para fechar com chave de ouro, os tchês fazem um convite um tanto perigoso em tempos de assaltos: (Vamos para o) "Rancho" traz o clima gostoso do interior. O único problema é que além de ti como convidado, tu tem a Xuxa e o Bonamigo na mesma festa. Seja bom ou ruim, pelo menos tem pizza e limonada! Sim oh! Yes! Meu amor,coração!
A curta discografia da Graforréia Xilarmônica é uma ofensa a criatividade da banda e a boa discografia do rock nacional. “Coisa de Louco II” é um álbum imperdível, pelo menos não tem firulas e nem virtuoses. É simples e direto como todo disco deveria ser e como a gente sempre quis que fosse.
A curiosidade matou o gato!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O Rock Brasília, desde 1964 conta com sua ajuda e suas sugestões para se aperfeiçoar. Comenta aí!
ATENÇÃO! Como a moderação está ativada, pode ser que demore uns minutinhos pro comentário aparecer. Palavras de baixo calão e críticas que nada tenham a ver com o contexto da postagem serão limados sem dó.
Valeu pela participação.
Renato Nunes