por Fernanda Popsonic*
Já há um tempo que alguns amigos vem me pedindo para falar sobre Pablo Capilé e o Fora do Eixo também. Resolvi há muitos anos deixar isso para lá. Afinal, não é porque eu havia tido problemas, que eu enxergava algo que não gostava, não era uma garantida de que aquilo não fosse bom realmente. Talvez fosse bom para alguém, né? Então, resolvi seguir a minha vida independentemente de qualquer coisa. Afinal, já haviamos nascido assim. Somos a geração Myspace, DIY. Já haviamos chutado um baterista e o substituído por um computador. Haviamos também gravado um disco todo em casa com um microfone de brinquedo e a guitarra desafinada ligada no computador. Nada mais seria um impedimento maior.
Já há um tempo que alguns amigos vem me pedindo para falar sobre Pablo Capilé e o Fora do Eixo também. Resolvi há muitos anos deixar isso para lá. Afinal, não é porque eu havia tido problemas, que eu enxergava algo que não gostava, não era uma garantida de que aquilo não fosse bom realmente. Talvez fosse bom para alguém, né? Então, resolvi seguir a minha vida independentemente de qualquer coisa. Afinal, já haviamos nascido assim. Somos a geração Myspace, DIY. Já haviamos chutado um baterista e o substituído por um computador. Haviamos também gravado um disco todo em casa com um microfone de brinquedo e a guitarra desafinada ligada no computador. Nada mais seria um impedimento maior.
Eu vi o Roda Viva dessa segunda-feira. Acho sim que o mídia
NINJA tem feito coisas legais e o Bruno sabia o que falava ali. Precisamos sim
democratizar nossos meios de comunicação. Mas ali também vi uma organização que
não conseguia explicar como era financiada. Era uma contabilidade
super-mega-ultra-criativa. Isso não é intriga da oposição, coisa da Veja, do capeta
pintado de roxo, golpistas, PIG ou whatever! Tem muita gente que não recebe
ali. Eu já passei por isso! Já vi o Pablo Capilé também milhares de vezes
pregando o fim dos caches. Artista tem de ser pedreiro! Nada contra os
pedreiros, ok? Apenas acho injusto trabalhar de graça, doar trabalhos para uma
organização se apresentar em meios políticos e se gabar com meu esforço e sem
meu consentimento.
Mas voltando à minha história…
Sim, atrasaram cachês, ou melhor dizendo ajuda de custo.
Resolvi no grito, depois fizemos as pazes e coisa e tal. Sempre que ia a Cuiabá
era super bem tratada, as pessoas eram sempre super legais e já até dormi em
uma Casa Fora do Eixo em um colchão jogado no chão. Sempre achei aquelas
pessoas super trabalhadoras e devotas daquele serviço para cultura. Quando você
pensa nisso num lugar que fica longe de muitas coisas… vc acha bem
interessante. Isso te conquista.
Não preciso de mordomias. Esta não é a questão. Já dormimos
em estoque de bebidas de casa de show. Já fugimos de furadas com medo de termos
os rins roubados e coisa e tal, rsrs. Ninguém aqui está falando de um camarim com
maçanetas de ouro e um quadro do Matisse na parede.
Não posso falar muito do Cubo Card, além dos relatos de
pessoas do FDE que diziam que realmente funcionava em Cuiabá. Segundo elas,
você pode estudar inglês, fazer compras no supermercado e pessoas viviam de
cubo cards. Eu apenas comprei alguns refrigerantes na própria casa, hehehe.
Tudo bem, o que importa é que as pessoas sejam mais felizes mesmo e se a coisa
funciona é porque está cobrindo a lacuna que faltava. Pelo menos era o que
parecia. Quem trabalha com artes sabe muito bem que até numa grande capital
temos carências culturais sérias. O que dizer daquelas pessoas que estavam
trazendo música e todo tipo de artes para sua casa e pelo menos no discurso a
ideia era levar boa música para o resto do Brasil? Justo, não?
Aquilo ali era legal!
O Capilé parecia ser alguém muito interessante. Aliás, a qualquer um que me
perguntar até hoje eu repetirei a mesma coisa: não concordo com muitas das
coisas que ele fala, prega e faz, mas o acho um cara carismático realmente.
Eu discordava de muitas coisas ali. Artistas devem ser pagos
sim! Técnicos de som também! Acredito que no Brasil se inflacionam tudo, mas um cachê em reais deve ser pago. Especialmente quando o produtor recebe para fazer
um evento. Eles também usam nosso nome, nossa marca, nosso esforço para chamar
as pessoas, para movimentar as empresas patrocinadoras e os governos. Se deu
pouca gente na casa, dá um pouco, se a Petrobras colocou muito ali, paga-se
mais e por aí vai.
As bandas que
circulavam… tinham qualidade musical discutível, mas eram politicamente bem
articulados. Os melhores tocariam em breve com cachês muito melhores em grandes
eventos já comandados pelos caciques do FDE. Eles engoliram a Abrafin. Eles
engoliram muitos outros festivais, casas, coletivos, selos, pessoas que
trabalhavam há tempos ou foram motivadas pelo mesmos. Mas quem colocava seu
suor ali? O FDE colocava sua marca e eles vinham aqui apresentar nos
ministérios, os incríveis trabalhos que estavam fazendo pelo Brasil inteiro.
Sim, se não fosse o Espaço Cubo e Fora do Eixo, TALVEZ nem
saberíamos que existia alguma banda super legal no Acre ainda. Porém, tenho em
mente que o FDE não produz nada. Quem fica 10 horas por dia dentro de um
estúdio por um mês somos nós! Quem quase vai a loucura para conseguir fazer
alguma coisa somos nós. Quem paga o nosso próprio trabalho independente somos
nós, os artistas!
Não posso falar pelos produtores, mas acredito que muitos
deles passem pelo mesmo ou perrengues ainda maiores. Li até um post recente do
Fernando Rosa. Ele dizia mais ou menos o seguinte: a forma como Capilé fala do
que fez pela cena independente é uma afronta a todos nós que estamos
trabalhando diariamente para construir isso.
Lendo o relato de amigos eu fico cada dia que passa mais
impressionada, mais chocada. Quando eu saquei que o lance era você fazer os
trabalhos e colocarem o selo do FDE para sua autopromoção cai fora. Isso há
mais de 6 anos atrás.
Em 2007, eu desabafei para um jornalista em um show nosso em
São Paulo. Por incrível que pareça foi a primeira vez que não me senti sozinha.
Uma outra pessoa me disse “nossa, então você é chamada para tocar num esquema
que tem dinheiro público, edital, patrocínio, entrada e não recebe?” Bom, por
incrível que pareça esta era uma prática até comum entre os festivais pelo
Brasil. A Rolling Stone me ligou e fizeram uma entrevista comigo. Eu respondi.
Num outro dia fui para a aula e comecei a receber ligações
de forma muito insistente de fora de Brasília. Sai da sala até meio assustada.
Atendi e me falaram o seguinte: se essa entrevista for publicada você pode
considerar sua banda enterrada. Enfim, liguei pro Pil (N.E.: Companheiro de banda e cônjuge) e resolvemos conversar
com o Pablo Miyazawa que foi super
gentil e super compreendeu. Minha entrevista não foi publicada, mas outras pessoas
começaram a dar depoimentos anonimamente e rolou alguma repercussão. Os
festivais começaram a pagar caches nesta época. Fiquei com um bom sentimento no
fim das contas e resolvi encerrar meu mimimi por ali.
Realmente não queria escrever sobre isso e me aborrecer
novamente. Escrevo porque meus amigos acham que pode colaborar a melhorar a
discussão em torno de toda essa história. Muita gente se sente trapaceada como
eu me senti por algum tempo.
Àqueles que ainda pretendem entrar no ramo, não desistam!
Tem muita gente boa produzindo, abrindo casas, pagando direitinho. Tem muito
artista novo, o que é bom… oxigena! É isso aê… vamos discutir e melhorar. Depois, bola pra
frente, galera! ,)
*Fernanda Popsonic é vocalista e baixista da banda Lucy and the Popsonics
Mto bem, queria saber onde esse pessoal que ~reclama~ tocaria se não fosse pelo Fde.
ResponderExcluirComeçou o Choque Pesadelo....
ExcluirOi? Não toco em eventos do FdE desde 2007. Toquei em 10 países pelo mundo e a quantidade de shows ultrapassa dos 500. Mais alguma coisa?
ExcluirAh... desculpe-me! toquei na Casa Fora do Eixo em Sampa em 2011 de graça para 5 pessoas. Prefiro tocar no Velvet aqui em Brasília para 200. Muito mais legal até! ,)
Pra vocês terem uma ideia do quanto o FdE é necessário, eis meu depoimento: tenho banda ha 8 anos, já circulei o Brasil em 6 turnês e ouvi falar deles pela primeira vez semana passada. Em resposta ao Anônimo, convem lembrar que esse pessoal que ~reclama~ tocaria onde vem tocando ha anos: em casas, festivais e instituiçoes que pagam cachê... ;)
ExcluirTenho vergonha de ter sido colega do Capilé na universidade. Quando ele começou a pensar o FdE o discurso dele era um. A cada dia de conversa ele foi mudando mais e mais. Hoje, por mais carismático que ele seja, ele se transformou em um maluco por dinheiro.
ExcluirAté a blogosfera independente está sendo influenciado pela Veja.... Triste.
ResponderExcluirFoi o contrário, a Veja que veio aqui.
ExcluirCadê a Carta?
ExcluirEles nem apareceram... fingem que nao viram, apesar de tantos depoimentos.
Se quiserem uma entrevista estamos aí!
Hey, Socialista Morena, Azenha, Nassif, Sakaolho... quedê?
Olha o Nassif aí, minha gente:
Excluirhttp://www.advivo.com.br/node/1466271
Acho que agora, finalmente o caldo entorna. Parabéns pra Fernanda e pro blog pela contribuição pra desmontar essa rede, ano que vem é ano eleitoral e esse pessoal queria faturar em cima, eu acredito.
ResponderExcluirObrigada! ^^
ExcluirNão dá pra entender o que ela quer, ela queria falar mal e tocar nos shows dos caras. Não entendi. Vc convidaria pro seu aniversário alguém que fala mal de vc?
ResponderExcluirNão faço festa de aniversário com dinheiro público.
ExcluirNão mesmo! Nem eu gostaria de tocar para alguém que não te paga, que te enrola e vive falando em guerra memética com seus alienadinhos.
Excluiraqui uma dica boa: http://www.youtube.com/watch?v=xpxd3pZAVHI
Ninguém percebeu que o formato do FdE é um caminho desbravador, do novo século. O modelo industrial e econômico do século 20 é passado. Sei que é difícil acompanhar e que palavras como colaboração, trabalhos cooperativos em rede podem ser desenvolvidos sem a dependência de movimentação monetária. É a Era da Informação, pós-fordismo, quem não acompanhar vai ficar pelo caminho.
ResponderExcluirEu sei. Vc inventaram a máquina do movimento contínuo, né? Curioso como essa desmonetização pra funcionar, depende do velho capital fordista via Estado como combustível.
ExcluirNa realidade não tem nada de desbravador! Isso existe há milhares de anos, inclusive, mas qdo nos referimos a fatos passados chamamos de escravidão. ,)
ExcluirFora do Eixo nunca mudou lógica de mercado alguma. Ele é a personificação máxima do capitalismo Marina Silva (disfarçado de sustentável mas usando dos mesmos princípios agressivos de poder).
ResponderExcluirA retórica desse mafioso é sempre a mesma: se apropriar de ideais anarquistas e libertários (socialistas e comunistas) e desacreditar todos que apontam suas mentiras como capitalistas rancorosos. Senão vejamos:
- Capillé tentou publicamente, na frente de dezenas de testemunhas, forçar um patrocínio da Coca-cola na marcha da maconha, um movimento social legítimo. Há algo mais capitalista que isso?
- Capillé criou uma máfia dedicada em tempo integral a ganhar editais e impedir uma livre concorrência de artistas para seus sustento.
Há algo mais capitalista que isso?
Vejam a lista e me digam se isso não é monopólio?
http://spreadsheets.google.com/spreadsheet/pub?hl=pt_BR&key=0AjEzvOdRTzfAdGJTRGF2ZGU0cmYzczktZ1FIUllpbVE&gid=10
- Capillé segue exatamente o princípio das majors da música americana:
privilegia artistas consagrados como Criolo e Tulipa Ruiz, pagando sempre em dia seus cachés enquanto a centena de outros grupos que fazem o volume da ‘marca’ tem que trabalhar na ‘breja’ e com acomodações pagas (sem receberem um centavo). Há algo mais capitalista que isso?
- Os relatos mostram que Capillé pressiona diariamente as pessoas da Casa Fora do Eixo (tenho dois amigos que moraram nelas) a trampar em tempo integral se dedicando ‘a causa’ sem ter vida pessoal’. Há algo mais capitalista que isso?
- Os artistas são obrigados a não assinarem sua colaboração na Fora do Eixo, assim como jornalistas e demais envolvidos. Todos respondem à marca sem personificação nenhuma do trabalho pessoal. Há algo mais capitalista que isso?
- Capillé até tempos atrás, usava o sistema de ”Choque e Pesadelo” até na cartilha oficial Fora do Eixo. O sistema consiste em fazer assédio moral constante a alguém da casa que, segundo o mafioso, ”vacilou” com a causa. Existe algo mais capitalista que isso?
A lista é grande, mas essa é minha contribuição para esse caso. Agora eu vou lá convencer meus amigos a passar as coisas que tem para o FDELeaks.
Abraço aos deslumbrados acéfalos que defendem esse criminoso.
Quem quiser denunciar agora tem uma plataforma anônima.
Manda seu relato lá se quiser.
FORA DO EIXO LEAKS
http://www.foradoeixo.sx/