Urge em Brasília uma enorme renovação no rock. E não só às 19 horas como informa a Voz do Brasil. Aquele cujo fama se desenvolveu sendo oitentista e noventista com grupos que faziam covers, desde bandas americanas como Bill Halley and His Comets até os Bítous.
Houve um empréstimo no repertório e pouquíssimo na atitude. Os sorrisos ingênuos, as saias curtas, os cabelos penteados pra cima, as calças boca-de-sino e um certo constrangimento. O Brasil passava por um período de chumbo que iria se aliviar por volta de 1979/1980 em um processo de redemocratização.
Câmbio Negro, Raimundos, Legião Urbana, 5 Generais, Replicantes, Graforréia Xilarmônica, Peter Perfeito, Camisa de Vênus, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Little Quail e etc....
As bandas acima (e centenas de outras) tinham influências (e quem não tem?), mas possuíam características singulares, que atraíam fãs de todo o Brasil, cada um com seu jeitinho, cada um com suas peculiaridades e cada um com suas próprias riquezas.
Talvez por conta do momento vivido pelo país entre 80 e 90, muito do discurso de tais bandas serviram de retórica para uma geração carente de representantes (honestos) nos lugares centrais do Brasil. Esses grupos, junto com seus vocalistas, ganharam fama e renome por traduzirem um sentimento e o inconsciente coletivo de uma sociedade marcada por tempos em que se comprava um arroz de manhã a um preço e a tarde ele estava remarcado e mais caro.
Muitas vezes, esse discurso vinha cheio de estilo e de uma nobreza textual impressionantes, caso de Legião Urbana e Paralamas do Sucesso, ou com ironia, deboche e/ou sutileza, caso de Ultraje e Little Quail. Independentemente do formato, eles diziam o que pensavam, o que sentiam, e levavam multidões a cantarem em brandos orgulhosos “eu faço parte da galera do fundão”, por exemplo.
Faz um tempo que vivemos um novo milagre econômico (tal nomenclatura ganhou nascimento na década de 50 com Juscelino) e um momento do país que equalizou em alguns setores (não sejamos modestos quanto a isso) a condição de um segmento na sociedade que sempre procurou se atualizar. São aqueles que consomem informação, que pagam ingressos em casas de show e teatro, compram CDs aqui e lá fora, criticam, interagem, assumem posturas, debatem e criam teorias.
Hoje em dia a maior crítica ao status quo de qualquer coisa em qualquer lugar não vem do santo e sagrado palco, mas do próprio público.O que aconteceu com a proposta textual do rock candango? Impossível diagnosticar apenas um sintoma desta patologia incubada, que não mata, mas incomoda. Uma dor que aparece de vez em quando, some e volta para dela lembrarmos. O rock do quadradinho (aquele cantado em português, baixo, guitarra e bateria, com balada radiofônica, no máximo) tornou-se coverizado e muito menos semelhante à voz de um povo.
Tu está certo se pensa que a proposta do rock não necessariamente está ligada a se fazer ícone da voz do público ou de um grupo específico, mas, coincidentemente, desde que não temos mais música que leva a uma certa reflexão, temos uma expressão artística bem discutível na questão do seu próprio valor artístico e abstrato.
Tolice querer enumerar bandas que hoje possuem um texto musical diferente de boa parte dos exemplos citados acima. Seria restringir ao gosto pessoal e desrespeitar o leitor no fato que gosto é coisa abstrata, discutível filosoficamente, mas de debate infrutífero.
A música piorou. O texto também (inclusive os meus!). Os recursos linguísticos são recorrentes, sem autoindulgência e atendendo (por mais clichê que seja) uma receita estabelecida pela promoção, não de um pensamento, mas de um estilo. As bandas hoje são menos conhecidas do que o carimbo que levam. As pessoas gostam, por exemplo, de forró universitário, não importa quem seja o intérprete daquela moda.
Será que há 30 anos também tínhamos um discurso ensaiado pelos interesses fonográficos e uma feliz coincidência com o que havia de melhor produzido em todos os termos? Tudo não passou de uma grande benção a obtenção de letristas como Renato Russo, Rodolfo Abrantes, Gabriel Thomaz e outros tantos bons candangos?
O que se espreita é que não há nenhum interesse (ao menos aparente) de que surja um novo jeito de se fazer música, que consiga unir uma qualidade textual abrangente e uma música bacana, atraente e que mexe com corações. Parece que nosso rock só pode atender hoje uma condição, sem atender outra. Não consegue ser completo. Anima, festeja, mas não “cativa” ou cativa, anima, mas não “festeja”. Não há um sentido de integridade.
Não é engraçado. É triste.
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Renato Nunes