12/11/2012

A volta dos que não foram


No último sábado, durante o Festival Goiânia Noise, foi lançada a FBA, Festivais Brasileiros Associados, formada pelos dissidentes da recém-finada Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin), depois desta ser incorporada logística e ideologicamente pelo Fora do Eixo, que acabou se tornando uma espécie de Geni daquilo que se convencionou chamar de Indie Estatal. Muitos dos festivais deste novo organismo foram, inclusive, fundadores da Abrafin.

Há uma questão em aberto. Esta Abrafin 2.0 foi devidamente formatada? Ou seja, os vícios que ruíram com a estrutura anterior fazem parte do passado ou permanecerão?

O motivo alegado da implosão da primeira entidade foi sua contaminação político-partidária e as suspeitas de mau uso dos recursos das leis de incentivos. Outra crítica recorrente é em relação ao empreendedorismo sem riscos, subsidiado pelo Estado, e sua completa ausência de resultados palpáveis.

Por exemplo, a Abrafin foi incapaz de revelar sequer UM artista realmente relevante em 10 anos de atividades. Pelo contrário, a filosofia era a de que a estrela deveria ser o festival. Resumindo, eles decidiram que festivais deixariam de ser um meio para apresentar artistas ao grande público, e se tornariam o fim. Ou seja, a coroação, o apogeu, o sonho máximo permitido às bandas condenadas à danação do amadorismo eterno. Profissionais, nesta cadeia produtiva, apenas os produtores.

Minha desconfiança, por enquanto, é muito maior que a esperança de que esta mentalidade, de fato, tenha mudado. Isso porque analisando os associados da nova organização, percebo um em especial, que foi quem realmente iniciou o processo de partidarização da Abrafin, e que trabalhou incansavelmente para transformá-la em um arremedo de partido político e sindicato. Tão responsável pelos rumos tomados, que compunha a chapa Fora do Eixo (última a comandar a Abrafin, confira aqui, no fim da entrevista.), na condição de Diretor de Ação Política. Algo que revela uma afinidade ideológica total com o modelo implementado.

O engraçado é que quando o caldo entornou de vez, esta mesma pessoa foi uma das primeiras a pular fora, e atirar contra seus recém-ex-aliados, na melhor ilustração da relação naufrágio/rato que pude observar em vida.

Se festivais grandes e renomados como o Abril Pro Rock ou Porão do Rock permitem que oportunistas amarrem seus burros sob a sombra de seus prestígios, problema deles. Mas com isso, a dúvida que permanece é a seguinte. Veremos um repeteco das surubas das curadorias (remuneradas) entre os produtores, aquilo do dá a sua que eu dou a minha? Veremos novamente bandas de selos de produtores como figurinhas fáceis nos line ups? Veremos jornalistas viajando de graça, enchendo a pança de kibe e cerveja em backstages, pra virarem avalistas midiáticos da entidade?

Sinceramente, espero que não. Infelizmente, acredito que sim. E por isso que as linhas deste blog saúdam a FBA, mas estarão sempre muito atentas com o desenrolar disso tudo.

Obs.: Ao contrário de outras publicações que abordaram este assunto na net, esta postagem não se baseou no release distribuido pela nova entidade. Independência editorial, você vê por aqui.

4 comentários:

  1. O Release é algo importante para deixar informados até para fazer os seus próprios editoriais.

    Parabéns.

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  2. Dou só uma dica: OLHO NOS EDITAIS DA PETROBRAS!!!!!

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  3. http://screamyell.com.br/site/2012/11/11/festival-el-mapa-de-todos-2012/

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  4. Belas fotos, a equipe de produção em PoA é bem competente. Uma mudança notável em relação ao fiasco que foi primeira edição desse festival, ainda aqui em BSB, foi a escolha de bandas com público, como o Autoramas e o Nenhum de Nós. Não dava pra ficar dando murro em ponta de faca a vida inteira, por mais burro que o cara seja. Uma hora alguém mais inteligente iria dar uns toques certos.

    Ó só, se bobear, nas próximas edições, dá até pro tal produtor parar de fazer média política, partidária e sindical em redes sociais, largar a barra da saia do MinC e da Petrobras (como lembrou o Gabriel ali em cima, as conexões estão sendo apuradas tb), quem sabe? Tomara. Acho ruim não. :)

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Valeu pela participação.

Renato Nunes

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