29/04/2013

Meia Dúzia: (per) Versões Brasileiras

Traduttore, traditore. Tradutor, traidor. A frase não deve ser muito mais nova do que o próprio ofício de tradutor. Imagine em tempos longínquos, qual não era a dimensão dos poderes de um. Enfim, qualquer pessoa que tenha brincado de telefone sem fio pode perceber o quão difícil é a manutenção da integridade de uma informação repassada na mesma língua. Imagine então as obras originadas de traduções de traduções de traduções. Há uma grande probabilidade de que abriguem um conteúdo completamente distinto da matriz, do texto original.

Na história da música pop brasileira há uma tradição curiosa e, até onde pude observar, exclusiva. Já que a tradução por si já é uma traição, por que não esculhambar tudo de vez e escrever outra letra completamente diferente da original? E não se trata de paródia, mas de uma presepada genuinamente brazuca, um meio de se burlar o pagamento dos direitos autorais das canções, etc.... Prática cujo nascimento até se confunde com o do próprio rock nacional. Hits seminais como Biquini de Bolinha Amarelinha ou Splish Splash foram alguns dos desbravadores desse caminho das versões infiéis.

Recentemente, uma constrangedora versão que o Latino fez para Gangnam Style, do coreano Psy, bateu recordes de dislikes no Youtube. Mas, não se engane, algumas das piores versões já gravadas foram executadas por artistas bem mais conceituados que o ex-marido da Kelly Key. O R64 traz a seguir 6 das piores “versões” brasileiras de sucessos internacionais, inaugurando a seção Meia Dúzia. Acompanhe.


6. Roberto Carlos - Splish Splash (Splish splash, de Bob Darin)

O rei Roberto Carlos está na comissão de frente da lista. Alguém aí já ouviu um beijo que tenha emitido tais ruídos? Chuac, smack, tudo bem, ainda vai. Mas, splish splash? Isso parece mais uma troca de bofetadas que qualquer outra coisa. Na letra verdadeira, o personagem está tomando banho....








5. Kiko Zambianchi - Hey Jude (Hey Jude, dos Beatles)

Paul McCartney escreveu essa letra para consolar o filho de John Lennon, Julian, e sua mãe, após a separação. Tio Paul batia a real pro moleque. Hey, Jude, don't make it bad. Take a sad song and make it better, um conselho que apontava caminhos. Não fique mal, faça da dor sua inspiração e siga. Já o Kiko Zambianchi faz o estilo ex-hippie frase-feita de auto-ajuda, e aconselha o garoto a ignorar a realidade e se alienar completamente: Hey Jude não fique assim. Sabe a vida ainda é bela. Esqueça de tudo que aconteceu. Amanhã será um novo dia. De embrulhar o estômago. Nanana é o diabo.








4. Renato e seus Blue Caps - Feche os Olhos (All my loving, também dos Beatles)

Essa canção de amor dos Beatles fala sobre saudade. A letra começa com um beijo de despedida de alguém que teve que partir, mas que escreverá todos os dias para a amada. Close your eyes and I'll kiss you. Tomorrow I'll miss you. Remember I'll always be true. And then while I'm away. I'll write home everyday. And I'll send all my loving to you. Mas, Renato e seus Blue Caps resolveram transformar o protagonista em um bobalhão infantilóide, inseguro, obsessivo e com complexo de inferioridade. Feche os olhos e sinta um beijinho agora. De alguém que não vive sem você. Que não pensa e não gosta de outra menina, e tem medo de lhe perder. Podre.









3. Leo Jaime - Solange (So lonely, do Police)

Nos anos 80, a coisa tava realmente feia. E um dos grandes momentos vergonha alheia foi essa infame versão da música do Police, rebatizada de Solange por Leo Jaime. Solange, Solange, brada o refrão.







2. Juba & Lula - Surf é o que eu sei (Surfin’ USA, dos Beach Boys)

Mas, se fizeram bobagens nas versões acima, o que nossos replicantes brazucas conseguiriam fazer diante de uma canção originalmente bobinha como Surfin’ USA? A música eternizada pelos Beach Boys foi transformada em Surf é o que eu sei (aaargh) e regravada por Juba & Lula, personagens de Kadu Moliterno e André de Biasi que protagonizavam o seriado Armação Ilimitada, espécie de Malhação dos anos 1980s. Medonha.







1. Nenhum de Nós - Astronauta de Mármore (Starman, do David Bowie)

Pra encerrar com estilo. Pobre David Bowie, viu seu homem das estrelas ser transformado em um reles astronauta de mármore pela banda Nenhum de Nós. Além disso, nossa campeã merece uma menção honrosa por conseguir metamorfosear os versos There’s a starman waiting in the Sky. He'd like to come and meet us, but he thinks he'd blow our minds” no emblemático refrão Sempre estar lá e ver ele voltar. Não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar. Putz....



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