29/08/2010

Os passos de Fred Astaire (atualizado com download em 21/09)

A cada 10 segundos cai um single na internet
E a cada 2 minutos sobe um novo podcast
E
O som do MP3 melhora no K7
No lado A da fita cabe o B do Indietracks...*

Sabem qual é um dos problemas do rock brasileiro de uns tempos pra cá, mais notavelmente no meio independente?
As bandas se levam a sério demais.

Nem falo do lado saudável disso, que é a profissionalização, autogestão da carreira, pois isso é o básico para qualquer profissional liberal que queira viver de seu ofício.

É que muitas bandas parecem se esconder atrás de uma relevância musical ou poética que, honestamente, não existe, nem existirá. E tampouco há problema nisso. Música pop é entretenimento, erudição tem que ser buscada na literatura ou em gêneros musicais mais sofisticados como o jazz ou choro.

Agora surgiu uma história de se tratar rock como uma ciência exata e de acreditar que há indie-cientistas que professam esse conhecimento. Conversa mole, besteira das grandes.

O rock se popularizou porque foi a expressão musical mais simples - no sentido de requerer pouco conhecimento musical teórico - que o jovem humano encontrou pra contar suas histórias ou embalar as suas festas. Hoje, pouco se percebe desse ímpeto juvenil desafiador original. As bandas parecem feitas sob medida para agradar sexagenários.

Ok, as pessoas crescem. Mas, Fred Astaire, segundo álbum do agora trio brasiliense Lucy and the Popsonics é prova de que é possível amadurecer sem perder a ousadia (nem a ternura). O disco é um chute de bico na caretice do existencialismo indie de mesa de boteco.

A produção impecável de John Ulhôa (Pato Fu) é só a cereja do bolo. Neste segundo trabalho, a banda mantém o humor característico, a ironia provocadora e o singular contraste entre a meiga voz de Fernanda e a poderosa parede de guitarras de Pil. Mas, tudo está mais encorpado, com jeito de banda grande. Não foi à toa que um baterista "humano" (Beto Cavani, ex-Suíte Super Luxo) foi convocado para ajudar a eletrônica Lucy, e reforçar essa pegada nas apresentações ao vivo. John também participa com programações e guitarras em quase todas as faixas.

Difícil destacar um ponto alto em um trabalho tão bem amarrado. Multitarefa, faixa de abertura, é uma música que o Devo poderia ter feito na semana passada. Popdoll Killer tem passagens que remetem ao Dead Kennedys psicodélico do disco Frankenchrist. As letras continuam espertas e ainda tratam do cotidiano com um sarcasmo bem dosado. Os questionamentos mudaram um pouco. As críticas aos modismos adolescentes presentes no primeiro disco, como Garota Rock Inglês, deram lugar a versos como: eu gostaria que a vida fosse lenta/Sobraria um tempo pro meu imposto de renda” ou “Vivo numa maquete/Me sinto um rato branco. Sou um experimento/Trabalho em um banco. As horas me oprimem/O elevador comprime e o digital distrai, que revelam uma angústia urbana mais adulta. Há também um improvável cover do Sepultura (Refuse/resist, do Chaos A.D.).
Fernanda, Pil e o 3º elemento, Beto Cavani
(foto: Nicolas Gomes)

Um disco para se ouvir no volume máximo e com um sorriso estampado logo a partir da primeira faixa. Afinal de contas, não é pra isso que serve esse tal de rock’n’roll?

... Camisa xadrez abotoada no pescoço
Suéter no calor e óculos de aro grosso


As melhores bandas são as de abertura
A cena mais bacana é indie-folk da Albânia...

Biff bang, Biff pop
Biff bang, Bang pop*




Lucy and the Popsonics - Fred Astaire (2010)


1. Multitarefa
2. Biff bang pop
3. Popdollkiller
4. Fred Astaire
5. Refuse/resist
6. Por que você não morre?
7. Ziggy
8. A síndrome das perna inquietas
9. Eu vou casar com um cosmonauta
10. Oito bits


BAIXE AQUI


CD físico: http://www.monstrodiscos.com.br/loja/

*Versos da música Biff bang pop

4 comentários:

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Renato Nunes

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