04/04/2010

Série 50 anos: 6. Meninos, eu vi - parte 2 (1990s)

(leia a primeira parte aqui)

por Zeca Domingos

Eu sei que eu já falei um pouco dos anos 1990, mas alguns detalhes, como o link deles com o início do século 21, são bem importantes e não poderiam ser esquecidos.

Como eu disse em meu último post, toquei em algumas bandas do cenário daquela década, e tive oportunidades únicas: Na época em que toquei com o Succulent Fly, o Anderson (vocal) junto com o Vítor – da primeira grande produtora de shows desta cidade a Look Like Produções, alguém se lembra? Eles trouxeram o Fugazi para tocar no Teatro Garagem, com a nossa banda de abertura.

Bandas de rock, para mim, são locais de aprendizagem. Sério, sem demagogia. Se você me perguntar sobre uma banda, pergunte o que aprendi que eu lhe conto. Com o Succulent Fly eu aprendi, por exemplo, que uma banda que quer tocar faz o seu próprio show, arma o seu próprio esquema. Aliás, isto ocorria também com os Animais dos Espelhos e com o Divine – esta última trouxe pra tocar em Brasília, o Superchunk, Fellini e Luna.

Ainda no primeiro lustro dos anos noventa (que chique! Lustro = 1/2 década! -  NE.: Zeca, isso me lembra que tanto eu quanto vc tivemos uma banda chamada Cultura Inútil, hehehe) O rock de Brasília pós-Legião mostrava sua cara. Neste sentido a Rádio Cultura FM e seus programas – Cult 22 e Ideia Nova – serviram, e muito, para a manutenção da cena rock daquela época. Na verdade, tínhamos um espaço de circulação de idéias bem legal: rádios, jornais (suplementos semanais e a ousadíssima iniciativa do jornal Via-Skalla, especializadíssimo em rock ) e ainda os fanzines que tinham sua força, como o Tupanzine do Ricardo Tubá do Guará, o do Claúdio Bull e tantos outros.

Naquela mesma época tiveram vários grandes shows, e participei de alguns deles: Burning Garage e o show do Second Come – ambos produzidos pela Look Like e com participação das guitar bands ( eu mesmo não gostava muito desde rótulo, mas vá lá...): Animais dos Espelhos, Oz, Sunburst e Low Dream. Este mesmo grupo de bandas tocou algumas vezes no Guará no Lord Dim Pub, um espaço alternativo lá daqueles lados.

Ainda neste tema, é necessário lembrar do cassete coletânea Cult Cover Demo. Projeto originalíssimo da Cultura FM que reuniu as bandas mais significativas naquele momento e cada uma gravou um cover inusitado. O resultado foi interessantíssimo: DFC tocando Boys dont Cry; Little Quail tocando o tema de Stock Car e outras loucuras superlegais. O show de lançamento foi uma celebração com todas as bandas no Teatro Garagem entupido de gente, numa combinação louca: Guitar bands juntos com bandas de HC, metal e o Mata Hari! Foi um festival de moshs.

O rock em Brasília e no Brasil estava numa rota impossível. Em relação aos anos 1980, o cenário era promissor. Já rolava um intercâmbio de bandas - algumas que nem mais existem, mas que tiveram a função fundamental de trocar figurinhas com as bandas locais. Algumas iniciativas empresariais apostaram no rock. Vide o caso do Bronx, uma estrutura feita única e exclusivamente para shows; casas como o Sindicato e São Rock feitas especificamente para o público rocker.

A MTV, naquele momento, era um grande veículo de informação, solapando as fontes tradicionais – revistas, zines e mesmo as rádios estatais. Nesse contexto, a Cultura FM continuou atuante, mas com uma importância menor, mas ainda assim imprescindível até hoje. O advento da MTV ocorreu junto com uma série de coisas juntas. Eu defendo a tese que com a MTV nós começamos a tornar o rock nacional, de fato, nacional. Note que uma das tendências daquele momento eram os sons regionalizados com uma roupagem moderna e sofisticada – tais como Chico Science e Nação Zumbi, o álbum Roots do Sepultura e mesmo o primeiro dos Raimundos.

Isto aconteceu também, pela troca de informações entre as bandas, que ocorria, via shows ou via mídia. Meio que padronizamos a forma de fazer som – equipamentos e tal. Mas ainda assim, se manteve a originalidade de cada cidade, pois a especificidade de cada uma delas acaba sendo determinante para o seu tipo de produção. Tanto é que as grandes bandas daquele momento, foram as grandes bandas da MTV: Raimundos, Little Quail, Maskavo Roots. Bandas poderosas que tiveram a seu favor a estrutura da mídia como nunca antes. Ainda bem!

Esta padronização acabou descambando em estruturas como a Abrafin. Na virada do século, festivais do tamanho do Porão do Rock já faziam parte do calendário cultural de grandes cidades brasileiras. Um sonho que se tornou realidade. Como também se tornou real o sonho também de tocar no exeterior. Muitas bandas tocam mais lá do que aqui, sem que necessariamente tenham que se mudar para lá: viva a globalização.

Neste segundo momento da década de 1990, eu estive em três bandas: Câmbio Negro, Succulent Fly e, finalmente, Divine – até o encerramento da banda, no início do século 21. Em todos os grupos, tive a oportunidade de desfrutar bons momentos, alguns deles dignos da história da cidade e outros dignos somente de minha vida: Primeira Calourada da UnB10 mil pessoas tocando em casa! As já citadas aberturas para bandas gringas, Porão do Rock com os Divinos e 65 mil pessoas, e no Porão do Rock como DJ pra não sei quantas mil pessoas.

Alguns dos nossos ficaram no meio do caminho. E muitos ainda irão ficar. E merecem ser lembrados: Fejão (sem dúvida um dos mais originais guitarristas da cidade. Não o conheci pessoalmente, mas um texto sobre rock de Bsb sem ele, convenhamos....), Renato Russo e Cássia Eller. E a querida ex-baterista dos Flies, Berila.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Rock Brasília, desde 1964 conta com sua ajuda e suas sugestões para se aperfeiçoar. Comenta aí!

ATENÇÃO! Como a moderação está ativada, pode ser que demore uns minutinhos pro comentário aparecer. Palavras de baixo calão e críticas que nada tenham a ver com o contexto da postagem serão limados sem dó.

Valeu pela participação.

Renato Nunes

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Related Posts with Thumbnails