08/02/2010

Segundo Ato

O duo Lucy and the Popsonics está em Belo Horizonte finalizando o seu segundo álbum.

Sob a produção de John Ulhôa (Pato Fu), que já trabalhou com artistas como Wonkavision e o ex-Mutante Arnaldo Baptista, o novo trabalho nasce com a responsabilidade de suceder o bem recebido A Fábula (ou farsa) de dois Eletropandas, lançado em 2007 e que abriu muitas portas, algumas internacionais, para a dupla.

Uma missão e tanto. Enquanto músicos e produtor se debruçam nos ajustes finais, a vocalista e baixista Fernanda Popsonic arranjou um tempo para falar comigo pela net sobre o novo trabalho, a cena independente e os planos daquela que, depois do Móveis Coloniais de Acaju, é a banda que mais tem se destacado fora das divisas do DF, nos últimos anos.


E aí, Fernanda, vocês acabaram a gravação do segundo álbum? Pode adiantar algo sobre ele?

Ainda estamos acabando, na realidade. Esse acabar é complexo. Falta mexer em uma musica aqui e ali e esse mexer também é complexo. Estamos realmente metendo o dedo em tudo, na letra, nos arranjos, tudo. Tem até uma letra que refizemos agora, porque o John achou melhor mudar o sujeito que canta. Daí, tivemos que reajustar a letra, trocar algumas palavrinhas. Outras, ele não gostou de como soou e mudamos algumas outras palavras.

Aprendemos muitíssimo com nossos primeiros produtores e estamos aprendendo mais ainda com o John. O som esta mais no eletrônico de raiz que o nosso primeiro disco. Trouxemos muitas influencias de rock mais velho mesmo, e o eletrônico não ficou muito para trás. Cansamos do eletro rock que andam fazendo atualmente. Tá chato já!


Desde o lançamento do Eletropandas, vcs ganharam muita experiência, fizeram algumas turnês internacionais e participaram de programas no canal Multishow, essa estrada trouxe alguma influência nova na música de vcs?

Muitas influências novas, mas preferimos o que escutamos em casa, hehe. Brincadeira, gostamos muito da nossa experiência com as outras bandas com que convivemos na França, mas nada que pudesse se tornar uma influência, até porque temos vidas e personalidades muito diferentes. Nao dá pra fingir sentir algo que não se sente, né?

Quando estávamos lá fora, percebemos muita coisa ainda com o pé pesado no eletrônico. Mas, não acredito que estamos fazendo algo para bombar de imediato nas pistas, entende?


Fernanda, como foi o episódio do pulo na bateria, no festival da Oi, no ano passado?

Foi ingenuidade nossa aceitar tocar naquele festival. Não precisamos nos expor de qualquer forma e a qualquer custo. Mas como quem nos convidou era alguém que conhecíamos, nós topamos porque eles precisavam de nomes que chamassem público. Topamos a ideia, mas esperávamos uma mínima qualidade de equipamentos e dos técnicos de som, afinal fazemos um som muito mais complicado e sofisticado que uma simples apresentação de voz e violão. Afinal, já estavam usando nosso nome de graça. Quando vimos a besteira que tínhamos feito, já era tarde e não dava para voltar atrás, daí tentamos encarar o negócio.

Mesmo com a melhor boa vontade do público, o que sai das caixas de som é o que importa. Se soa mal, ninguém vai creditar isso ao equipamento ou ao técnico de som que não soube ou não quis fazer o seu trabalho. Se o som tá ruim é porque a banda é ruim e ponto final. Mas na produção de um show, existem um monte de pessoas necessárias para aquilo lá acontecer direito. Por isso, as bandas maiores tem sua própria equipe! Ninguém sacaneia com o próprio trabalho, sacaneia-se sim com o dos outros. O técnico tá lá há horas, carregando equipamento, montando, passando som, vendo um monte de bandas ruins e estranhas... e recebendo muito mal. Alguém acha que ele vai querer te ajudar no som? É uma questao bem lógica. Ele não vê a hora de ir embora pra casa....

O som era terrível. Não sei se de propósito, mas a regulagem do som no palco estava um inferno. Tinham agudos ensurdecedores, graves que chiavam no final colando com o próximo. Estava muito estranho, muito desagradável no palco. Minha dor de cabeça começou a explodir logo ao começar o som. E o público tava lá para nos ver, para assistir um show. Enfim, não consegui quebrar tudo, infelizmente. Fomos interrompidos e expulsos literalmente do palco, mas acho que começamos bem.


Sei que ambos são pacatos servidores públicos em Bsb. O fato de vcs não terem essa urgência, que alguns têm, de viver exclusivamente de música, é um dos fatores responsáveis pelo tempero do descompromisso que existe na música do duo?

E bota pacato! Tem gente que pergunta porque nao fomos a tal lugar que tava super hiper legal. Quando respondemos que é porque trabalhamos das 9 às 19 horas, ninguém acredita.
Até o primeiro disco éramos completamente descompromissados. Queríamos nos divertir e só. Tocar nos lugares, fazer shows, etc. Depois começamos a achar que estavamos fazendo algo divertido e que parecia interessante. Hoje temos outra visão sobre isso. Queremos fazer algo mais legal ainda, como se fosse um descompromisso compromissado, saca?

Quando vejo que as pessoas ainda nos descobrem até hoje, 2010, pelo disco de 2007, passamos a pensar nas gravações de um disco como uma coisa que tem de ser mais profissional. Hoje, eu mudaria tanta coisa naquele primeiro disco..., mas ja era, tá registrado.

Porém, acho que vamos continuar trabalhando igual agora com menos shows na agenda e de preferencia com mais qualidade. Cansamos dessa coisa muito underground, saca? Para onde estes anos todos de indie-dependência nos levou? Pra lugar nenhum. As bandas não cresceram em nada, nem na qualidade. Ter liberdade é o lado ótimo do independente. O lado ruim é nunca conseguir sair do quadrado, nem quando se deseja muito. Quando você acha que tá saindo de uma ponta, chega a outra. Ninguem te tira de lá. Além de tudo, você é facilmente tachado de estrela, de querer nadar em rios de dinheiro, de pedir absurdos. O que deveria estar em questao é a profissionalização. Gravar num estúdio legal, ter um bom produtor e a oportunidade de aprender mais sobre a arte de fazer música, algo que nao é realidade para quase ninguém. Fazer um show com qualidade, então... Isso virou de fato um luxo.


No Twitter, vcs já citaram umas influências bem incomuns em relação às bandas atuais, como Stranglers, Gang of Four e David Bowie. O que ouvem Pil e Fernanda em casa? E de Brasília, alguma banda?

Escutamos tudo que podemos. Se gostamos então, escutamos muito mais ainda. Algumas bandas que eu não entendia no passado, com a experiência e o amadurecimento comecei a entender. Existem coisas que eu achava uma merda e agora curto e coisas que eu escutava e que hoje eu jogo pela janela, hehe. De Brasília atualmente eu gosto de escutar o The Pro, mas ainda não fui ao show. Somos fãs do rock BOM de Brasilia. Aí tem muita banda legal. Algumas você até já fala bastante aqui no blog.


Projetos para depois do lançamento?

Continuar a trabalhar, tocar em lugares mais bacanas, porém com menos insalubridade, cuidar do nosso gato e tentar passar em outro concurso. hehe. Musicalmente, comprar novos equipamentos, continuar minhas aulinhas de canto, e estudar mais artes como um todo. O Pil quer aprender a tocar trompete. Eu quero só cantar melhor.


Legal. Valeu pela entrevista.

Bom, eu vou nessa. Tenho que estudar a próxima letra que vou gravar aqui. hehe. Tem uns caras da TV vindo também. Beijos

2 comentários:

  1. Massa demais. Melhor banda do DF e do Brasil.

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  2. Pô, Renato.
    O blog está excelente!
    Uma dica, que talvez expanda os limites do blog, é falar também sobre os DJs da cidade.

    Há alguns folclóricos, que renderiam boas histórias e entrevistas, como o MONTANA.

    ResponderExcluir

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Valeu pela participação.

Renato Nunes

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