09/03/2009

Entrevista exclusiva: Canisso

Os Raimundos fizeram seus primeiros e despretensiosos ensaios em 1988, lá se vão mais de vinte anos. Nessa época o Canisso era “o cara mais velho” que tinha carteira de motorista e sabia tocar as músicas dos Dead Kennedys, duas características que o deixavam alguns degraus acima dos demais moleques que ensaiavam na Mad House do André Bermak. O Canisso era um cara que tinha mais afinidades com a molecada hardcore que começava a esfolar ouvidos por Brasília do que com a rapaziada pós-punk de sua idade.
Em 2007, ele retornou ao Raimundos depois de 5 anos afastado, período em que tocou no Rodox e no Quebraqueixo. E em 2008 a banda retornou à mídia após longa data, isso foi no Altas Horas (onde ele até aconselhou a então futura medalhista, Maureen Maggi) e participou de dois grandes shows em Brasília, no aniversário da cidade e no reveillon – ambos na Esplanada dos Ministérios.
O ano passado marcou também a volta da banda ao circuito independente nacional, um cenário bem diferente daquele da época do Festival Juntatribo, quando o forró-core brasiliense foi apresentado para o resto do Brasil, no início da década de 90. O Canisso concedeu uma entrevista exclusiva para o Rock Brasília, desde 1964 onde fala um pouco sobre a história e o momento atual da maior banda brasileira dos anos 90.

Canisso, o Raimundos parece estar vivendo o melhor momento desde a saída do Rodolfo, é uma impressão que procede?
Não tenho como avaliar ao certo, pois fiquei quase 5 anos fora da banda, mas esse último ano foi bastante proveitoso, tomamos a tarefa de empresariar a banda pra nós mesmos, e com isso o leque de shows aumentou bastante...a entrada do Caio na bateria tbm deu um gás a mais e isso se reflete nos shows.


O que foi mais difícil, superar a saída do do Rodolfo ou superar o fato da banda ter figurado no topo do mainstream?
A saída do Rodolfo nunca foi superada totalmente, ainda trás sequelas e mágoas até hoje.... Quanto o mainstream, ao meu ver foi a pior época da banda, musicalmente e em termos de relacionamento entre os componentes, e o público mainstream é volúvel, sou muito mais passar 10 anos como banda pequena (mas com um público fiel) do que 5 sendo sucesso nas paradas, apesar da grana e fama...


Cara, aqui em Brasília se diz vários absurdos, como por exemplo, afirmar que o Digão nunca tocou guitarra ao vivo e que dependia do Guiminha para quase tudo nos shows da época áurea, o que você tem a dizer sobre isso? 
O Guiminha sempre foi um trunfo escondido (injustamente). Ele possibilitava trazer partes das músicas que nunca conseguiríamos reproduzir ao vivo pra cada show, tocava teclado, dobrava a voz do Rodolfo, fazia backing vocals e durante muito tempo foi nosso técnico de som (hoje em dia ele está de volta!!!), mas não dublava o Digão, às vezes fazia uma segunda ou terceira guitarra junto. Pra adcionar, nunca pra substituir.


Eu costumo definir o Raimundos como o Beastie Boys brasileiro. Eles também começaram com letras bem adolescentes e foram amadurecendo com o passar dos anos. Você acha que os Raimundos ficaram escravos de alguma “fórmula de sucesso” que impediu que as temáticas das músicas fossem se modificando conforme vocês fossem amadurecendo?
Engraçado, as pessoas pensam dessa forma mesmo, porque o único disco que nos afastamos um pouco da temática mais escrachada (o Lapadas do Povo) foi justamente aquele que teve a sua divulgação prejudicada por aquele acidente com o público em Santos, ficou a impressão que houve uma tentativa de amadurecimento do trabalho que não deu certo.... Mas nunca houve uma fórmula mágica do sucesso, cada disco é uma fotografia fiel de cada fase que estávamos passando....

Que diferenças você percebeu entre o circuito independente de hoje e o da época do Juntatribo?
Hoje a parada é bem mais "profissa" veja a quantidade de festivais independentes , a Abrafin, o Myspace..., pra uma banda hoje em dia é muito mais fácil mostrar seu trabalho. Na época do Juntatribo o "corre" era muito pior, não tinha nem internet, era na base dos fanzines, correio, fitas demo....

Não podia deixar de falar no Rodolfo. Você, Digão e ele foram amigos durante muitos anos e compartilharam muitas coisas durante uma boa parte da vida, a separação não permitiu que restasse nada dessa amizade?
Cara, de minha parte a amizade continua, mas o contato é difícil, ele parece que encontrou outros caminhos que não se cruzam mais com os nossos...enfim, sorte pra ele nesse caminho que ele escolheu.

Canisso, valeu pela entrevista, gostaria de saber se vocês pretendem gravar coisas inéditas e que você fizesse suas considerações finais!
Estou sempre compondo, nesse momento tenho algumas músicas que ainda não sei se estão boas o bastante pra colocar na roda pra banda fuçar e terminar, o resto da banda também. O certo é que enquanto não passarem no meu "controle de qualidade" eu não deixo saírem, está nos planos da banda lançar material novo sim, em breve....

Um abração pra você e pra todos do blog, Renato, Zeca, Paulo Marchetti, eu viajei de volta ao passado vendo os posts no blog, é o documento do Rock candango...


3 comentários:

  1. O que eu mais sinto saudade no tempo em que o Canisso (beiradinha) tocou no Quebraqueixo eram as histórias cabulosas que ele contava no caminho pro estúdio. Ele tinha que escrever um livro!

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  2. por falar em cena independente...

    O festival Cuca de Copas, que em sua primeira edição, dezembro passado, reuniu numa mesma noite as bandas cariocas Matanza e Autoramas, no lançamento do CD de estreia da brasiliense Gonorants, já está engatilhando a segunda versão, prevista para os dias 7 e 8 de agosto, no Arena Futebol Clube (Setor de Clubes Sul).

    Antes disso, o evento promoverá seletivas ao vivo para a escolha de duas atrações. As bandas interessadas em participar devem enviar material, até o dia 08 de maio, aos cuidados das produtoras Cuca Nova & QuatroCantos, para o seguinte endereço:

    SHIS CL QI 23, Sala 103, Ed. Top 23
    CEP: 71.660-000
    Lago Sul - Brasília-DF
    Mais informações em breve ou pelo e-mail cucadecopas@gmail.com

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  3. Canisso para mim, foi o Jason Newsted brasileiro.

    O baixo de Cintura é tão alto que as vezes você até esquece que punk se precisa de guitarra (auqel amúsica sem guitarra já se garantiria), como outras tambem...

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Valeu pela participação.

Renato Nunes

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