Faroeste Caboclo
Tinha 14 anos. Era o primeiro show de rock que assistia na vida. A Legião Urbana era amada na cidade mais ou menos como os Beatles em Liverpool. Todo mundo foi ao Mané Garrincha. Todo mundo mesmo. Os 50 mil presentes compraram ingressos, ou não, e lotavam o gramado, as cadeiras e as arquibancadas do estádio.
Foi uma noite tensa. A polícia montada avançava com os cavalos sobre as transamazônicas filas que se formavam do lado de fora. A cidade estava extasiada. Ninguém queria perder a volta do ídolo, um ano e meio depois. O caos era tão grande que tiveram a brilhante idéia de liberar as roletas. Quem tinha ingresso entrava. Quem não tinha entrava também.
A aparição da banda no palco pareceu a volta do messias. E, de certa forma, era mesmo. A multidão gritava enlouquecidamente, e o show começou, triunfal, com Que País é Esse?, música de mesmo nome do recém-lançado disco, que até então já tinha vendido mais de 400 mil cópias.
O que aconteceu naquela noite muita gente ainda se lembra: bombinhas explodiram no palco, um louco agarrou Renato Russo no meio de Conexão Amazônica, brigas por toda parte, o cantor xingou a platéia, a platéia xingou o cantor. Um clima de quase guerra civil.
A banda saiu do palco depois de 50 minutos de apresentação. O público, indignado, iniciou um quebra-quebra. Eu estava nas arquibancadas. E dava para ver a multidão correndo de um lado para o outro no gramado do estádio. A polícia, claro, não conseguiu controlar a catarse coletiva.
No dia seguinte, prometi pra mim mesmo que ficaria 10 anos sem ouvir as músicas deles. Fiquei uma semana. E a Legião nunca mais tocou em Brasília.
Geração Coca-Cola
Antes da Legião Urbana, nenhuma banda da cidade tinha conseguido projeção nacional. Outras vieram depois. Mas a diferença é que o quarteto tinha Renato Russo, um professor de inglês que gostava de Bob Dylan, Beatles, Stones e Sex Pistols.
Naqueles anos, ninguém mais estava a fim de ouvir Absyntho, Metrô, Sempre Livre e outros grupos que, felizmente, apareceram e desapareceram na década de oitenta. Era hora de escutar músicas que contavam o que acontecia no dia-a-dia da gente.
Renato sabia o que dizia. E sabia o que o seu público queria que ele dissesse. Suas letras iam da desilusão amorosa entoada em Ainda é Cedo à revolta em ver a pátria sem rumo, gritada em Que País É Este?.
Ele tinha a poesia dos trovadores. Foi o maior letrista do rock brasileiro em todos os tempos, mas com alma punk. Quando parava pra falar, todos ouviam. Por isso mesmo falava o que queria. Uma mistura explosiva do poeta francês Baudelaire com Sid Vicious, o polêmico baixista dos Pistols.
Será?
Naquela noite de 18 de junho de 1988, isso tudo veio à tona. A idolatria pela Legião e especialmente pelo vocalista estavam no auge. A expectativa era muito grande, tanto do público quanto do grupo. A banda prometia revolta e energia em suas músicas e foi isso que levou 50 mil pessoas ao estádio. Quando as coisas começaram a dar errado, ficou impossível controlar os ânimos.
Assim como a tragédia de Altamont (Festival de 1969 que tinha em seu line up, os Rolling Stones cujos seguranças espancaram um fã até a morte) marcou a transição dos sonhadores anos 60 para a barra pesada dos anos 70, o show do Mané Garrincha foi também um divisor de águas na carreira do grupo e na história da cidade.
A partir daquele momento, o quarteto passou a evitar longas turnês e deixou de lado o discurso político. As letras tornaram-se mais introspectivas. Brasília nunca mais juntou tanta gente em uma apresentação de uma só banda e a segurança da platéia passou a ser levada mais a sério nos shows (ou você acha que 700 policiais e seguranças dariam conta da multidão?).
Renato Russo também deixou de lado o discurso messiânico. Não queria mais mudar o mundo. Passou a querer apenas cantar suas próprias aflições e angústias.
Naquela noite Brasília perdeu um punk. E muito da inocência também.
Tinha 14 anos. Era o primeiro show de rock que assistia na vida. A Legião Urbana era amada na cidade mais ou menos como os Beatles em Liverpool. Todo mundo foi ao Mané Garrincha. Todo mundo mesmo. Os 50 mil presentes compraram ingressos, ou não, e lotavam o gramado, as cadeiras e as arquibancadas do estádio.
Foi uma noite tensa. A polícia montada avançava com os cavalos sobre as transamazônicas filas que se formavam do lado de fora. A cidade estava extasiada. Ninguém queria perder a volta do ídolo, um ano e meio depois. O caos era tão grande que tiveram a brilhante idéia de liberar as roletas. Quem tinha ingresso entrava. Quem não tinha entrava também.
A aparição da banda no palco pareceu a volta do messias. E, de certa forma, era mesmo. A multidão gritava enlouquecidamente, e o show começou, triunfal, com Que País é Esse?, música de mesmo nome do recém-lançado disco, que até então já tinha vendido mais de 400 mil cópias.
O que aconteceu naquela noite muita gente ainda se lembra: bombinhas explodiram no palco, um louco agarrou Renato Russo no meio de Conexão Amazônica, brigas por toda parte, o cantor xingou a platéia, a platéia xingou o cantor. Um clima de quase guerra civil.
A banda saiu do palco depois de 50 minutos de apresentação. O público, indignado, iniciou um quebra-quebra. Eu estava nas arquibancadas. E dava para ver a multidão correndo de um lado para o outro no gramado do estádio. A polícia, claro, não conseguiu controlar a catarse coletiva.
No dia seguinte, prometi pra mim mesmo que ficaria 10 anos sem ouvir as músicas deles. Fiquei uma semana. E a Legião nunca mais tocou em Brasília.
Geração Coca-Cola
Antes da Legião Urbana, nenhuma banda da cidade tinha conseguido projeção nacional. Outras vieram depois. Mas a diferença é que o quarteto tinha Renato Russo, um professor de inglês que gostava de Bob Dylan, Beatles, Stones e Sex Pistols.
Naqueles anos, ninguém mais estava a fim de ouvir Absyntho, Metrô, Sempre Livre e outros grupos que, felizmente, apareceram e desapareceram na década de oitenta. Era hora de escutar músicas que contavam o que acontecia no dia-a-dia da gente.
Renato sabia o que dizia. E sabia o que o seu público queria que ele dissesse. Suas letras iam da desilusão amorosa entoada em Ainda é Cedo à revolta em ver a pátria sem rumo, gritada em Que País É Este?.
Ele tinha a poesia dos trovadores. Foi o maior letrista do rock brasileiro em todos os tempos, mas com alma punk. Quando parava pra falar, todos ouviam. Por isso mesmo falava o que queria. Uma mistura explosiva do poeta francês Baudelaire com Sid Vicious, o polêmico baixista dos Pistols.
Será?
Naquela noite de 18 de junho de 1988, isso tudo veio à tona. A idolatria pela Legião e especialmente pelo vocalista estavam no auge. A expectativa era muito grande, tanto do público quanto do grupo. A banda prometia revolta e energia em suas músicas e foi isso que levou 50 mil pessoas ao estádio. Quando as coisas começaram a dar errado, ficou impossível controlar os ânimos.
Assim como a tragédia de Altamont (Festival de 1969 que tinha em seu line up, os Rolling Stones cujos seguranças espancaram um fã até a morte) marcou a transição dos sonhadores anos 60 para a barra pesada dos anos 70, o show do Mané Garrincha foi também um divisor de águas na carreira do grupo e na história da cidade.
A partir daquele momento, o quarteto passou a evitar longas turnês e deixou de lado o discurso político. As letras tornaram-se mais introspectivas. Brasília nunca mais juntou tanta gente em uma apresentação de uma só banda e a segurança da platéia passou a ser levada mais a sério nos shows (ou você acha que 700 policiais e seguranças dariam conta da multidão?).
Renato Russo também deixou de lado o discurso messiânico. Não queria mais mudar o mundo. Passou a querer apenas cantar suas próprias aflições e angústias.
Naquela noite Brasília perdeu um punk. E muito da inocência também.
uma semana depois desse show me encontrei com RR aqui em SP. A Legião fez uma apresentação especial no aniversário da revista Bizz e fui ao hotel me encontrar com a banda. No quarto do hotel RR contou sua versão. Disse que a banda fez esquema para ficar hospedada perto do estádio e chegou bem cedo ao estádio, mas com a falta de organização, o ônibus demorou uma hora só para passar o portão do estádio e nessa a banda toda ficou assistindo a desorganização e por conta desse atraso em entrar no estádio, a banda também atrasou a entrada no palco. Foi até cogitado de não ter o show, porém poderia ser pior. A irritação com a falta de respeito já estava no limite quando Legião subiu no palco. Era tensão absoluta em cima do palco - tive a oportunidade de ver uma vhs gravada do palco que estava ao lado de Negrete. Ali ninguém estava a vontade, pelo contrário. RR estava muito triste com o ocorrido e com o modo como foi tratado em Brasília, não pelo público, mas com os puxa sacos que queriam se aproveitar do sucesso da banda.
ResponderExcluirAmigos entraram no estádio até com cocaína no bolso.
A banda se sentiu usada e juntou isso com a irritação pela falta de organização e deu no que deu.
Fato é que o show que fizeram em SP, no Projeto SP foi um dos melhores da banda em seu período de fama. Tocaram covers de Stones, Doors, Led, Beatles... e no bis fizeram outro show a parte só com músicas da banda. Lavaram a alma, pois estavam os quatro traumatizados com o ocorrido.
A imprensa ainda quis colocar a culpa em RR.
Logo ao chegar em BsB, cartazes com "o GDF saúda a nossa Legião Urbana" foi o início da irritação de RR. Disse que era cinismo, pois em todos os anos que a Legião estava em Brasília, antes do sucesso, numa ninguém havia dado bola para a banda... e oportunidades não faltaram.
A falta de organização foi culpa da Legião? Claro que não. A bada estava tão irritada quanto qualquer outro fã naquela noite...
Eu estava presente neste show, na pista presenciei toda aquela confusão. Lembro-me quando a banda abandonou o palco, o público indignado, um deles estava na minha frente e gritou: "Vamos quebrar essa p...!", e tudo começou.
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