03/05/2009

R64 Brasil: Entrevista Los Porongas


Eles saíram de Rio Branco, capital do Acre, para gravar em Brasília o seu primeiro álbum. Sob a produção do Phillipe Seabra, que a cada trabalho reafirma sua capacidade incomum de captar toda a essência de uma banda em suas gravações, e sob a chancela do selo Senhor F, o Los Porongas lançou seu excelente álbum de estréia com bastante personalidade musical e se apresenta como uma das bandas independentes mais promissoras de sua geração. 
Tão promissora que em 2007, após o lançamento desse álbum (disponível no site da banda) e já vivendo em São Paulo, assinou seu primeiro contrato com uma boa produtora paulistana para agenciar seus shows. Algo que foi considerado um pecado grave pelo selo Senhor F, que os dispensou de modo quase grosseiro, sem ao menos avisá-los da decisão - eles souberam da “demissão” pela internet
O vocalista Diogo Soares, que é também um excelente letrista, conversou comigo pela net e falou sobre essa polêmica e sobre a carreira da banda que, assim como a geração dos 80 fez com Brasília, colocou o Acre no mapa do rock brasileiro.

Antes de tudo, por que o nome Los Porongas?
Poronga é a luminária que o seringueiro usava sobre a cabeça quando saía pra cortar seringa durante a madrugada. Los é uma referência à fronteira com o Peru e a Bolívia, hermanos vizinhos. 
Por aqui se conhece muito pouco sobre o Acre, há uma história cultural no estado ou vocês fazem parte da geração pioneira no rock acreano?
A gente só botou pra frente um espírito de do it yourself que já rolava no Acre quando começamos a organizar eventos com bandas de rock que tinham um trabalho autoral. Muito do que acontece hoje lá se intensificou e pegou corpo nos últimos cinco anos, tempo de existência da banda. Mas outras coisas já rolavam, apesar de esporadicamente. Durante a década de oitenta um festival competitivo chamado FAMP revelou alguns artistas que flertavam com o rock, como o grupo Capú. Em 89 houve um festival importante o RB Rock; durante a década de 90 tinha uma galera do PCdoB que organizou o Fábrica, que teve umas três edições. Mas em termos de estrutura e alcance de público, mídia e interação com o resto do país nada se compara ao que hoje é o Festival Varadaouro que acontece por lá todos os anos. 
O primeiro álbum de vocês saiu pelo selo brasiliense Senhor F, como foi a gravação?
Foram 15 dias no Lago Norte na casa do Phillipe Seabra. Foi um período muito importante na nossa carreira, onde aprendemos muita coisa em relação à gravação de um trabalho. Até então nunca tínhamos trabalhado com um produtor. Apesar disso, chegamos com as músicas praticamente prontas. Ele fez poucas e muito boas observações quanto à estrutura das músicas. Quando discordamos esteticamente, prevaleceu a vontade da banda. Mas as contribuições dele quase sempre foram aceitas por serem invariavelmente muito pertinentes. Gravamos rápido. Dois dias pra bateria, dois dias pra gravar o baixo, uma semana pra todo trabalho de guitarras, que teve uma dedicação especial do Seabra e mais alguns dias para gravar a voz. Com direito à beliche, refeições e um convívio massa com a família Seabra. 
E Brasília, tiveram tempo para conhecer algo da cidade?
Cara, o Lago Norte não é bem aí como se diz no Acre, então ficava meio difícil de sair e como todos já conheciam a cidade, acabamos saindo muito pouco. O que me lembro mesmo é de um consultório odontológico na Asa Sul onde fui parar numa madrugada com a pior dor de dente que tive na vida. 
A saída de vocês do selo Senhor F foi meio conturbada, o que houve de fato?
Houve um mal entendido por falta de compreensão. Nunca quisemos sair do Senhor F, nem era necessário, mas o selo entendeu que assinar contrato com uma produtora em São Paulo era uma ação equivocada e premeditada. Soubemos da nossa saída pela internet. 
Em um comunicado o selo dizia algo como vocês terem traído “príncipios que norteiam o circuito independente”, o que ele quis dizer com isso?
Se querer trabalhar numa produtora que vai vender shows e articular a carreira em parceria for trair os princípios que norteiam a cena independente, significa que todos os princípios que nortearam a criação do Festival Varadouro, do Circuito Fora do Eixo e mesmo da Abrafin estão equivocados. Essa cena é feita por muitas pessoas, por muitas mãos e por muitos músicos. Músicos também precisam pagar as contas. Não há desonestidade em viver da música que se aprendeu a fazer. 
Como está a carreira de vocês depois do rompimento com o selo?
Rolaram bastante coisas bacanas. Fizemos o Altas Horas e começamos a fazer os shows de lançamento do DVD gravado no Itaú Cultural. Voltamos a dois dos melhores palcos de São Paulo, a Sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo e a Chopperia do Sesc Pompéia. Temos tocado com artistas que admiramos e em projetos conceituados, como o Rock no Santa Cruz, onde tocamos com o Cérebro Eletrônico.  Fomos selecionados pelo Projeto Pixinguinha que vai financiar o segundo disco e uma tour em três cidades do Acre. E o foco mesmo é o nosso segundo álbum. Estamos fazendo a pré-produção em casa o que dá mais tempo para trabalharmos nas músicas e são elas é que vão ficar, porque o resto passa. 
Já que você citou o Altas Horas, como foi se apresentar na TV aberta?
Aconteceu num momento muito bom. Estávamos prestes a lançar o DVD no Acre, voltando pra casa e aquilo repercurtiu em Rio Branco, no nosso Myspace e entre os fãs de um jeito muito positivo. Tem uma coisa muito legal que é o fato de pessoas que jamais conheceriam a banda passam a conhecer e gostar. É só mais uma janela. Uma grande janela, mas não mudou a vida de ninguém. 
Quais serão os próximos passos da banda?
Temos os shows do Pixinguinha pra fazer no Acre entre julho e agosto, devemos continuar fazendo os shows do DVD e é claro, trabalhar no próximo disco. 
Quando voltarão a Brasília?
Esperamos que seja logo.
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Uma boa semana para todos!

8 comentários:

  1. Oi, galera do Rock, tudo bem? Gostaria de saber quando vcs postarão o álbum ROCJK BRASÍLIA, EXPLODE BRASIL. Pois acho um trabalho de suma importância para a história do rock dessa cidade. Abração.

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  2. Esse disco será postado em breve, pode aguardar!

    Valeu pela presença.

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  3. Renato, muito obrigado pelo link da Revista Bula.

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  4. Esse FDP do Senhor F acha que profissionalismo e grana é só pra produtores. Músicos só precisam tocar...

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  5. O Fernando Rosa é o Eurico Miranda da cena independente.

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  6. O grande canalha do cenário independente se chama Fernando Rosa. Como o amigo disse acima, é o cara que inventou a cartolagem, é oara que faz propaganda de seus contratados com disfarce de "notícia".

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  7. Só pra completar, ele foi o responsável por trazer a infame prática do jabá (como no jornaleco Correio Braziliense, onde seus bajuladores fazem o jabá de "conveniência") pra música independente.

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  8. O mais nojento no Correio Braziliense é uma coluna que sai na sexta-feira, chamada Garagem.

    Lá é comum vc ver os tais jornalistas que lá escrevem, tomando cerveja com os seus "escrevidos", sejam eles músicos ou produtores.

    É um jornal onde ocorre um indecente troca-troca, daqueles mais rasteiros, daqueles mais comadres. Principalmente quando se trata da cobertura da cena independente nacional e, principalmente, da brasiliense

    E a ironia disso tudo é que um dos Editores Executivos do jornal foi um dos jornalistas mais sérios, atuantes e importantes do rock brasiliense, um cara que se mandava do Plano Piloto para a Cidade Ocidental pra cobrir show precário punk barraqueira. Um cara que ia a campo atrás dos fatos, tanto que foi um dos grandes responsáveis pela chegada da geração de Raimundos e Little Quail ao ouvidos certos do eixo Rio-São Paulo, numa época em que não existia INTERNET. Acho que nem isso aqueles anencéfalos articulistas do Garagem sabem. E nem ele deve saber que aquela página de sexta-feira é uma coluna de comadres de cafezinho no Beirute e de roboladas no Gates, ou vice-versa.

    Quer o exemplo mais escroto? Tem um que na quinta apresenta um programa de rádio com o Fernando Rosa e na sexta escreve elogiosamente sobre bandas, adivinhem, de qual selo? Hein? Lógico, você não é um imbecil. Ou é?

    Mas, é isso aí, com essa credibilidade construída sobre pilares tão podres, o futuro dos jornais será o mesmo dos mimeográfos. Sabe o que é isso? Nem meus filhos saberão o que é "Correio Braziliense".

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Valeu pela participação.

Renato Nunes

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