19/11/2008

Entrevista com Tom Capone

Conheci Tom em 1984, quando fui ao 1º ensaio do Peter Perfeito na casa dele e de Ricardo, seu irmão e então baterista do Peter. Tom naquela época nem sabia como pegar uma guitarra, muito menos que se tornaria músico e produtor. A 1ª formação do Peter era Wagner e Cássio (vocais), Babu (guitarra), Ricardo (bateria) e Miltinho (baixo). Inclusive até hoje tenho uma fitinha de um dos 1º ensaios (Aaaaaahhhhh! Triangulo das bermudas... / Ainda me lembro, lá na beira da piscina sob o sol...). Uma de minhas primeiras letras foi musicada pela banda que a tocou nos primeiros shows. Se chamava Estado de Sítio.
Bem, mas o assunto é Tom Capone. Em 2000 fui ao Porão do Rock para tocar no Palco B com os Mengele e também para fazer matérias para o site onde eu era editor de música. Aliás, antes eu era sempre convidado pela produção para ir ao Porão, até porque fui um dos que ajudou a divulgar o festival pelo Brasil e articulei para que a MTV fizesse a cobertura jornalística anual. Será que um dia eu irei ser convidado novamente?

Bem, fato é que tinha muita gente das antigas pelo backstage e essa edição do Porão foi memorável. Por lá estava Tom e em algum momento eu o peguei para uma entrevista. É difícil entrevistar amigos muito próximos, mas acabou rolando um bom papo.

Paulo Marchetti – Quando você começou a trabalhar com produção de discos?
Tom Capone – Eu comecei fazendo o Peter Perfeito, em 93. Eu assumi a direção de um estúdio no Rio de Janeiro, o AR Estúdios, aí com esse puta estúdio, eu chamei os brothers pra gravar, e fizemos o Funk Rock Nervoso, do Peter Perfeito, que saiu pela Virgin. A partir daí foi uma avalanche de artistas.
Paulo – Como foi seu envolvimento nos dois últimos discos da Legião?
Tom – O Peter Perfeito era uma banda contratada da (gravadora) Rock It! do Dado Villa Lobos. Na verdade, quando eu entrei nesses projetos, eu entrei pra dar uma força pro Dado. Tanto que no Tempestade, não tem meus créditos, pois eu só produzi as guitarras, apesar de estar ligado em tudo que eles estavam fazendo. Aí, quando o Renato morreu, o Dado me chamou pra fazermos o outro disco.
Paulo – Mas, depois disso, você teve que batalhar trabalho ou eles vieram até você?
Tom – Começou a pintar um monte de convites. Inclusive de bandas que não vingaram, tipo Virna Lisi, Maria Bacana, Acabou La Tequila, Baia e os Rockboys, Pravda!, essas foram as mais alternativas… Aí comecei a pegar outras coisas, fui à Nova York trabalhar com Moraes Moreira e mixei o disco 40 Carnavais. Foi ai que meu horizonte começou a aumentar. Fiz o Carlinhos Brown, junto com a Marisa Monte…
Paulo – Como você foi virar produtor. Você era guitarrista…
Tom – Quando saí de Brasília, fui com minha guitarra e trabalhei, como músico, para o Lobão, Lulu Santos, Oswaldo Montenegro, Cássia Eller…
Paulo – Gal Costa…
Tom – A Gal não. Com ela eu vou trabalhar agora… Ficou essa coisa de que eu tenho a manha do Pop/Rock, mas também não sou odiado pela velha guarda da MPB. Esse respeito é importante, porque tudo é MPB e tem que haver alguém linkando os dois lados, e eu acho que eu tenho que ir nessa onda. Fiz o Na Pressão, do Lenine…
Paulo – Como você trabalha no estúdio. Você costuma mudar muito o som da banda?
Tom – Não! Eu pego o que já está feito e vamos trabalhando em cima, até achar o ponto certo pra música. 
Paulo – Qual de seus trabalhos você destacaria?
Tom – O Só no Forévis, do Raimundos. Tem gente que pode achar esse o mais fraco da banda, mas se você for ver a trajetória da banda, você verá que esse disco é totalmente Raimundos. O que aconteceu nele, é que o Raimundos fez uma produção, onde a voz aparece, coisa que nunca tinha rolado, onde as guitarras ficaram pesadas, mas não incomodam tanto. Nesse novo disco, o Ao Vivo, não refizemos nada em estúdio, as 44 músicas do disco entraram do jeito que foram tocadas. É ao vivo mesmo!!!
Paulo – Dentro de toda a produção, o que você mais gosta de fazer?
Tom – A primeira parte pra mim, é pegar a música com a banda, achar o ‘fio condutor’ dela… eu gosto de fazer música que dá vontade de sacudir. Tem música que a letra é legal, a levada é interessante, mas a música não rola, então eu e a banda tentamos achar o que ela tem de melhor e trabalhamos em cima disso e, como eu também toco, aí fica fácil de achar os caminhos. A única diferença minha pra outros produtores, é que eu também sou engenheiro de som. Então eu ajudo a arranjar a música, gravo e mixo. Faço tudo eu mesmo. 
Paulo – Esse gosto todo pela produção surgiu na época em que você ainda tocava com o Peter Perfeito, gravando as demos…
Tom – Eu sempre amei estúdio. Quando eu ainda morava em Brasília, ficava lá no (estúdio) Artimanha, de bicão, tava o tempo todo lá e tinha gente que até achava que o estúdio era meu (risos). Aí deu no que deu…
Paulo – Tem algum artista que você gostaria de trabalhar, mas que ainda não rolou?
Tom – Tem! O Gilberto Gil. Agora eu tô começando a fazer o novo da Fafá de Belém. Velho, é de chorar!!! Sem dúvida esse é o melhor disco que eu fiz na minha vida! Sério!!!!! Ela canta muito, apesar de ter ficado meio apagada por uns anos… É o seguinte: eu juntei uma orquestra, com arranjos de Chiquinho de Moraes, Leandro Motta entre outros feras. São músicas de 1950, clássicos da MPB. O repertório foi escolhido pela Fafá, por mim e pelo Zé Nilton. Esse disco é ouro!
Paulo – Você adora motocicletas. Qual foi a melhor balada que você fez?
Tom – Ainda vai ser. Tenho vontade de ir ao México. Já fui pro Uruguai, Chile, esse ano fui passar o reveillon em Garopaba e quase passamos à virada da meia noite na estrada. Chegamos lá às onze da noite e não havia lugar pra ficarmos, aí encontramos e fomos correndo pra praia. Esse foi a melhor balada. Fomos em cinco motos. (PM)

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Renato Nunes

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