Resolvi criar essa seção Tesouros Perdidos BR, para sempre que for possível eu escrever sobre artistas ou obras nacionais que não têm o valor reconhecido ou que caíram no esquecimento completo. Hoje eu vou falar sobre um disco que não é exatamente rock'n'roll mas tem um espírito contestador bem punk, por mais que seja difícil acreditar apenas pelo que digo, você tem que ouvi-lo. E este é um álbum que merece ser escutado por muita gente.
Hoje eu resolvi escrever sobre uma jóia perdida da música brasileira, e que pra mim é a maior obra da psicodelia brazuca. Amiguinhos, se esperam que eu vá falar sobre algum álbum dos Mutantes ou obras obscuras como o Trilha de Sumé do Zé Ramalho ou algo de Tom Zé ou Jards Macalé, ou se estão achando que vou falar do Júpiter Maçã, erraram feio. O grande álbum da psicodelia brasileira, o nosso Sgt. Peppers, o We only in it for Money dos trópicos é Os Saltimbancos Trapalhões.
Não é piada, a trilha sonora da película de 1982 é daquelas que independe do filme pra ter valor, o disco é uma obra-prima de verdade. Ali, o maior compositor brasileiro, Chico Buarque de Hollanda (ele mesmo, o cara com quem o Marcelo Camelo aprendeu a fazer música e que, por isso, virou referência dos indies), fez uma adaptação da trilha sonora clássica de sua peça Os Saltimbancos para o filme da trupe liderada pelo Renato Aragão, também conhecido como Didi Mocó Sonrisal Colesterol Novalgina Mufumbo. Só que não foi uma mera adaptação apenas.
Esse disco traz um Chico Buarque inspiradíssimo e com uma liberdade criativa que a sua carreira formal jamais permitiria. E com exceção da capa, nada é infantil nesse álbum. A temática social da peça de 1977(mais punk impossível) está de novo presente na poesia das canções, e que canções! Da trilha original vieram A história de uma gata e o hino revolucionário Todos juntos que traz o belo verso: “todos juntos somos fortes, somos flecha e somos arco/todos nós no mesmo barco, não há nada pra temer”. Mas, ao lado delas há as músicas que Chico compôs especialmente pro filme, as fantásticas Hollywood e Minha Canção (ambas interpretadas por Lucinha Lins), Alô Liberdade (um baião floydianamente psicodélico. interpretado por Bebel Gilberto), Cidade dos Artistas (letra sensacional) e Piruetas e Meu Caro Barão (ambas interpretadas pelo Chico sendo que segunda traz uma absurda percussão feita com uma maquina datilográfica manual). Ah sim, o tema principal da peça, Bicharada (au-au- au, hi-hó, hi- hó, miau, miau, miau, cocorocó) empresta o refrão famoso para uma bela releitura batizada Rebichada.
Sem dúvida, o fato de ser uma trilha sonora de filme popular fez com que alguns intelectuaizinhos ou nossos mestres do bom gosto ignorassem a obra. Mas, não se engane, amigo leitor, nem deixe a cara do Didi Mocó na capa te assustar. Os Saltimbancos Trapalhões é um discaço mesmo, pra ouvir e se inspirar por toda a vida. Vai por mim.
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Renato Nunes